quinta-feira, 18 de setembro de 2008

Déjà vu

Envolvido até o pescoço no manguezal revelado pela Operação Moeda Verde, o empresário Fernando Marcondes de Matos foi novamente preso preventivamente por uma operação da PF. Dessa vez, a irregularidades tem como cenário Biguaçu, onde está sediada a Inplac, empresa de Matos. Abaixo, reproduzo um texto que escrevi sobre Marcondes de Matos na época da Moeda Verde, quando vazaram gravações sobre o lobby feito por ele para a aprovação da Lei dos Hotéis. Para quem acha que uma coisa é uma coisa e outra coisa é outra coisa, grifei uma frase do texto - originalmente publicado em A Notícia.

---

O poder e a influência do empresário Fernando Marcondes de Mattos no poder público municipal ficam explícitos nas conversas telefônicas gravadas pela PF e incluídas no relatório enviado à CPI que investiga a Moeda Verde. No documento, o empresário não tem dúvidas em acionar os vereadores cassados Juarez Silveira (sem partido) e Marcílio Ávila (PMDB) para pressionar pela aprovação de lei, em transações com a prefeitura e até para agilizar a colocação de postes em seu principal empreendimento - o Costão do Santinho. 

Marcondes de Mattos chegou a ser preso no dia 3 de maio quando foi desencadeada a Operação Moeda Verde, incluído entre os 22 empresários, políticos e funcionários públicos que tiveram a prisão temporária solicitada pelo juiz Zenildo Bodnar, juiz da Vara Federal de Florianópolis. A justificativa era influência o poder de pressão do empresário em órgãos do governo do Estado, como a Fatma. Foi solto no dia seguinte e à noite foi recebido pelo governador Luiz Henrique da Silveira (PMDB) para um jantar de desagravo. Em junho lançou sua biografia, entitulada "A saga de um visionário", em um evento que contou com boa parte das personalidades políticas do Estado. Além do empreendimento hoteleiro, ele também é proprietário da indústria de plásticos Inplac, localizada em Biguaçu, na Grande Florianópolis e chegou a ocupar cargos públicos como o de secretário da Fazenda, no governo Paulo Afonso Vieira (PMDB).

Nas gravações, a influência e o poder ficam registrada na prática. Mattos não tem receio em ligar para Juarez Silveira atrás de soluções para os mais diversos problemas. Para a aprovação da lei do incentivo aos hotéis, além do esforço do vereador cassado, ele contou com o auxílio do procurador-geral da Assembléia Legislativa Michel Curi, ex-vereador, e com a complacência do prefeito Dário Berger - que declara ao próprio Curi a vontade de "atender o doutor Marcondes".
O empenho de Marcílio Ávila na aprovação da mesma lei foi recompensado com o com o apoio do empresário para a ocupar a presidência da Santur, cargo que assumiu em janeiro. A participação do empresário na nomeação fica clara no relatório quando Silveira diz para Ávila que quem vai "bater o matelo" sobre a indicação é o empresário e o secretário de Cultura, Turismo e Esporte Gilmar Knaesel (PSDB).

Segundo Juarez Silveira, nas gravações, o empresário teria doado R$ 500 mil para Dário Berger (PSDB) durante a campanha eleitoral de 2006. Na época, o prefeito se licenciou do cargo para instalar em Florianópolis o comitê da candidatura de Geraldo Alckmin (PSDB) à presidência da República e fazer campanha pelo irmão Djalma Berger (PSDB) - que disputou e ganhou uma vaga na Câmara dos Deputados. O deputado nega a doação e Marcondes de Mattos apenas admite a doação de R$ 100 mil para a campanha de Luiz Henrique à reeleição.

Problemas corriqueiros como a visita de um fiscal da prefeitura ou a colocação de postes de energia elétrica no Costão do Santinho também contavam com o auxílio de Silveira, que procurava os agentes públicos envolvidos para intermediar as questões. O vereador cassado demostrava a postura que, em sua defesa no processo de cassação denominou "office-boy de luxo". Postura que Silveira deixava clara para Mattos nas conversas. "Tu sabe que pra ti eu faço qualquer coisa", disse o vereador cassado em uma das conversas interceptadas.
 
BlogBlogs.Com.Br