terça-feira, 1 de julho de 2008

Em nome do prestígio

Às vezes uma pauta tira a gente da rotina de cobertura. Foi assim quando, no início da semana passada, o editor sugeriu que eu fizesse uma matéria sobre a engenharia política articulada para que presidente do Tribunal de Justiça (TJ), Francisco de Oliveira Filho, assumisse o governo por dez dias.

A pauta não tinha nada demais, o DC também fez e publicou no mesmo dia. O que me fez gostar dela foi a possibilidade de misturar jornalismo e história. Tudo por causa de uma pergunta: quantas vezes um desembargador do TJ assumiu o governo estadual?

Alguns colunistas já tinham dito que seria a sétima vez, então liguei para a assessoria do TJ atrás de confirmação. Eles disseram que sabiam de seis casos, mas que não tinham registros anteriores a 1983. Passaram a relação dos seis nomes - com dados mais exatos apenas nos últimos quatro casos (data exata da posse e permanência no cargo, basicamente).

Não fiquei satisfeito enquanto não achei as datas e os motivos que levaram aqueles desembargadores a tomarem conta do estado. Acabei esbarrando numa lista de todo mundo que já assumiu o governo catarinense e pude somar mais dois desembargadores na lista do TJ. Um em 1915 e outro em 1922. Com os nomes, bastou uma rápida olhada no "Dicionário Político Catarinense" que comprei numa banquinha de livros usados da Praça XV por três reais. Lá estavam as datas de posse e o tempo no cargo, pelo menos.

Na hora de escrever, quase esqueço que o gancho era a engenharia feita pelo Luiz Henrique (viajou, mandou o Pavan viajar e pediu pro Júlio Garcia não assumir) e não a questão histórica. Não importa. Sou fascinado pela história política catarinense e me diverti descobrindo que o segundo desembargador a ter a honra de assumir o governo (João da Silva Medeiros Filho) era genro do então governador (Hercílio Luz). Terá alguém denunciado nepotismo?

Ainda quero descobrir porque Hercílio Luz resolveu "prestigiar" o marido da filha com quatro dias no comando do estado. Não vai render matéria, talvez nem texto aqui no blog. Mas, certamente, tem mais importância que a interinidade de Francisco de Oliveira Filho ou de qualquer outro magistrado substituindo governador. Alguns dias de assinaturas em projetos irrelevantes, concessões de títulos irrelevantes, discursos em eventos irrelevantes e egos massageados.

Desde 1915.

(clique na imagem para ler a matéria)
 
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