sábado, 16 de fevereiro de 2008

A Batalha dos Aflitos

O goleiro olha pro jogador que vai bater o pênalti, para a bola na marca a nove metros e quinze de distância, pro barulho irritante da torcida adversária, pro silêncio estupefato dos seus - dentro e fora de campo. Olha tudo isso e certamente pensa que não foi para acabar assim que foi engendrada a maior aliança política da história de Santa Catarina. Que se dividiu com precisão cirúrgica os espaços que cada liderança aparentemente inconciliável ocuparia naquele palanque, naquele governo. Mas é o que acontece. Um ano e dois meses depois de reassumir o cargo ganho nas urnas, o governador Luiz Henrique vê toda a estratégia que possibilitou a vitória sobre o tradicional adversário, Esperidião Amin, na marca do pênalti.

Os exageros na campanha de 2006 geraram as acusações de uso da máquina administrativa, abuso de poder econômico e dos meios de comunicação, que resultaram no Recurso Contra Expedição de Diploma 703, em julgamento no TSE. Acusação igual foi julgada no TRE antes de LHS tomar posse. Na época, por 4 votos a 2, os juizes do tribunal local reconheceram os abusos, mas prevaleceu a tese de que eles não seriam os responsáveis pela vitória de LHS sobre Amin, por mais de 180 mil votos.

A tese não encontrou guarida entre os três ministros do TSE que votaram até agora. José Delgado, Ari Pargendler e Gerardo Grossi foram enfáticos na constatação do abuso do poder e não reservaram uma linha sequer para questionar a potencialidade que as possíveis irregularidades teriam para dar a LHS a reeleição.

Crime e castigo, apenas.

Agora, LHS não pode ter sequer mais um voto contrário. Não importa que haja espaço para recursos e protelações. Se receber o quarto voto e tiver determinada a cassação pela principal instância eleitoral do país, o governo passa a ficar sub judice - e o governador ganha um estigma. Como tem Paulo Afonso Vieira, com o escândalo dos precatórios, e Amin, com as acusações de que teria quebrado o Besc. Com a liderança de LHS enfraquecida, a tríplice aliança não deve chegar nem até às eleições municipais, em outubro.

No banco de reservas, se aquecem Michel Temer, Nelson Jobim, Jorge Bornhausen e quem mais puder entrar no jogo. As pressões no campo político e jurídico se intensificam. Quando foi dado o primeiro voto pela cassação, em agosto, Luiz Henrique escalou o advogado José Eduardo Alckmin - ex-ministro do próprio TSE. Ele continua, agora com reforços. Até o secretário de Coordenação e Articulação Ivo Carminati e o de Administração Antônio Gavazzoni deixam de lado as questões de governo e se juntam à força-tarefa que vai tentar preservar o mandato do governador.

É a hora da retranca. E de pedir conselhos a Joaquim Roriz.

quinta-feira, 14 de fevereiro de 2008

Comentários que são posts

O jornalista Mário Coelho Jr. passou por aqui e lembrou mais uma história envolvendo Amin e Brizola, como a do post abaixo. Essa ele nunca tinha me contado e deve fazer parte do repertório que ele colecionou trabalhando na campanha de Amin à reeleição, em 2002. Segue abaixo:

"Tempos depois, o Brizola chamou o Amin de 'biruta de aeroporto', que vira para onde o vento passa. Lembro depois, em 2002, do Brizola voltando a SC para uma reunião que acabou em apoio a Amin. Pedro Schmitt pergunta para o velho caudilho o que tinha mudado da época da biruta para aquele dia. Brizola riu e respondeu dizendo que ele e Amin eram grandes amigos, e que a comparação era brincadeira de amigo. O caudilho realmente faz falta."

Na campanha de 2006, Amin volta a meia citava alguma história envolvendo o líder pedetista. Uma ou outra até veio parar aqui no blog. Em seu site de campanha, Amin citava como arrependimento o fato de não ter apoiado Brizola nas eleições presidenciais de 1989. Na época, o catarinense apoiou o correligionário Paulo Maluf no primeiro turno e Fernando Collor no segundo.

quarta-feira, 13 de fevereiro de 2008

Fábulas e alianças exóticas

O jornalista Cláudio Humberto, ex-assessor de imprensa do ex-presidente Fernando Collor, tem um site de notas políticas que vale dar uma conferida por causa de antigas histórias que ele relembra. Há dois dias, ele narrou um episódio envolvendo a curiosa aliança que juntou Esperidião Amin e Leonel Brizola em 1986. Em comum, ambos sofriam com o êxito do plano cruzado – que acabou elegendo governadores peemedebistas em todos os estados brasileiros nas eleições daquele ano.

Para tentar conter esse avanço é que os tradicionais opositores acabaram trocando figurinhas, sem sucesso. No Rio de Janeiro, o então governador Brizola não conseguiu emplacar o vice, Darcy Ribeiro, que perdeu para Moreira Franco. Em Santa Catarina, a “Aliança Social-Trabalhista” (o Social vinha do S do PDS de Amin e o Trabalhista do T do PDT de Brizola) foi ensaiada um ano antes, na disputa pela prefeitura da Capital. O candidato era Chico Assis, que sofreu sua primeira derrota em disputas pelo comando de Florianópolis, para Edison Andrino. Em 86, o PMDB levou também o governo estadual, com Pedro Ivo Campos.

As conversas entre Amin e Brizola – exímios frasistas e contadores de histórias – devem ter rendido boas notas nas colunas políticas da época. No resgate de Cláudio Humberto, Amin conta uma fábula árabe para Brizola.

- O urubu queria se vingar da cobra e contou à raposa: “Quando a cobra sair do buraco, dou uma bicada em cada olho e ela acaba morrendo”. A raposa ponderou que havia risco e sugeriu: “Vá à cidade, roube uma jóia da moça mais bonita e uma multidão vai atrás de você. Voe para o buraco da cobra, atire a jóia lá dentro e a turba vai matá-la para você”.

Brizola não entendeu a analogia e Amin explicou. Naquele momento, o Urubu era o PMDB e o governador fluminense, a cobra.

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Leia a nota publicada no site do Cláudio Humberto clicando aqui (é a última nota).
 
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